sábado, 27 de março de 2010

Frágil – tenho vontade de chorar, vontade de ir embora.
Para que me protejam, para que sintam minha falta.
Vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço.
Um dia mandar um cartão-postal de algum lugar improvável.
Escrever: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico.
Fico comovida com o que não acontece, sinto frio e medo.
Olhando por trás da vidraça a chuva que, aos poucos começa a passar.
Chorando por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correta e não foram comigo.
Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação.
Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
Fumarei demais, beberei em excesso, aborreco todos os amigos com minhas histórias desesperadas, noites e noites a fio permaneco insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirei dias adentro, noites afora, faltarei ao trabalho, escreverei cartas que não serão nunca enviadas, consultarei os astros, pensarei em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarei desamparada atravessando madrugadas em minha cama vazia, não consegurei sorrir nem caminhar de bobeira pelas ruas sem tentar descobrir em algum jeito alheio o jeito exato dela, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dela.
Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certa se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso.
A única magia que existe é a nossa incompreensão.

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